Canela
Há dias em que o que você não somente quer, mas o que necessita é um dia de calmaria, onde você sai, apenas sai sem rumo, em busca daquele lugar que você possa respirar e sentir o ar fresco invadir seus pulmões, e inusitadamente limpar sua alma. E foi isso que Ellen fez. Levantou, foi ao espelho do banheiro e lavou o rosto. Os fios claros desgrenhados caiam por cima do rosto repleto de sardas. Reparou nas pequenas rugas próximas aos olhos e no topo do rosto em forma de coração. Desceu as escadas e se encaminhou a cozinha, pondo água na cafeteira. Sentou na mesa, sozinha, e observou o jornal, lendo o editorial escrito por ela. Ellen era uma mulher inteligente, mas vivia uma vida que não era sua. Estava aonde não queria estar, vivia isolada em seu enorme apartamento próximo ao Central Park, recusando-se a manter um relacionamento sério com qualquer homem que se aproximava.
Ellen foi ate o Hall e olhou para sua bicicleta nova, ainda inutilizada, encostada próximo a porta. Pegou e saiu sem destino. Passeou pelos caminhos do Central Park, repleto de pessoas deitadas ao sol, aproveitando o dia ensolarado. Pensou em deitar, mas reparou em uma trilha que nunca havia ido. Era coberta por árvores enormes, o caminho era perfeito, mas estranhou não haver ninguém próximo. Era aquilo que ela precisava.
Seguiu na trilha, cada vez mais fechada e escura. Chegou a um ponto que não conseguia mais prosseguir com a bicicleta, então a abandonou, prestando atenção no local onde havia deixado e seguiu a pé. Não sentia medo, pelo contrário, sentia obsessão em continuar. Naquele local, as árvores eram tão densas que cobriam completamente a copa, tornando o dia em noite. Ouvia ruídos por toda parte, e preferia acreditar que eram lebres. Como poderia saber?
A única coisa que Ellen pode ver foi um vulto . Desabou no chão, desmaiada e foi arrastada até uma pequena cabana tangente ao pequeno riacho. Acordou amordaçada, nua e deitada em uma cama de trapos sujos. Olhou ao redor e se sentiu apavorada, não havia ninguém naquele local repleto de velas e com cheiro de canela. Olhou para os pulsos, amarrados ao topo da cabeça junto a cama, e as pernas separadas por cordas apertadas. Sentiu algo dentro de si, dentro de sua vagina, algo suportavelmente doloroso. Sentia vontade de gritar, de correr, de chorar, mas sua força não existia.
O homem entrou no quarto, e com ele o forte cheiro de suor. Era grande, com uma barba enorme e mal feita, o cabelo grande amarrado a um rabo de cavalo. Tirou a camisa de botões amarrotada e jogou no chão. Deu um sorriso pervertido, o que acarretou o inútil grito da garota, amordaçada. Abaixou a braguilha da calça, tirou o pênis já ereto e deitou por cima da garota. De uma vez só, penetrou com força, sem piedade alguma, e o grito feminino ecoou pela densa floresta, sem ser escutado por mais ninguém.
Ellen acordou suada e assustada. Olhou para os lados e reconheceu a claridade de seu apartamento. Agradeceu por tudo não passar de um sonho. Respirou fundo, mas quando o ar entrou em seus pulmões, reconheceu o forte cheiro de canela. Olhou para os pulsos e a última coisa que ela viu foram fortes marcas de mordaças ao redor deles.
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